SAMARRA HILLS

Conceptualize

sábado, 14 de maio de 2011

O Desenho e a Conceptualização


No que consiste desenhar? Até que ponto está este processo dito criativo ligado à faculdade de conceptualizar?
Ora, o desenho é, numa curta e geral descrição, o processo de captar uma forma física visível e tridimensional, transformá-la numa imagem abstracta e cerebral, memorizá-la, compreendê-la e conceptualizá-la, e de seguida, ordenar matéria de forma a simular visualmente, num plano horizontal e a uma determinada escala, essa mesma forma física.
Parece-me então que a capacidade de desenhar, de recriar imagens tridimensionais em imagens simuladas "bidimensionais", está profundamente ligada à capacidade de gerar imagens (conceitos) abstractas dentro do nosso cérebro. E creio também que aqueles que melhor desenham são aqueles que melhor captam formas e as compreendem. E o processo que designamos por "desenho" surge como um dos melhores instrumentos para a evolução dessa mesma capacidade de compreensão dimensional e de tratamento conceptual do Cosmos. Quanto mais se desenha, melhor se desenha e se conceptualiza, afirmo por experiência pessoal, pois se compreendida a falta de exactidão na reprodução de X forma física, o Ser Humano rapidamente procura um novo olhar sobre essa mesma forma e apreende mais factores para a sua conceptualização. O desenho contribuiu para a evolução do meu olhar sobre muitos objectos e formas: Querer representar algo leva-nos a procurar a sua real forma, nos seus mais profundos pormenores.
Por outro lado, penso que o desenho não é, como frequentemente se defende, um dom. A faculdade de bem desenhar não nasce connosco, talvez parte da propensão ao seu desenvolvimento nascerá. Mas a capacidade de desenhar é, como a maioria das outras capacidades humanas, algo que é suscitado por estímulos. Eu desenho de forma desenvolvida porque sempre fui estimulado a fazê-lo. E sempre tive numa folha de papel um local para representar objectos ou situações que me interessavam. Isto também porque o desenho tem uma vertente lúdica assinalável. Caso o meu avô não me tivesse dado um caderno e uma caneta e me tivesse impelido a desenhar, talvez nunca tivesse aprendido a captar conceitos e a transformá-los em recriações materiais e "bidimensionais" dos mesmos, e toda a minha vida teria sido diferente.
O desenho é assim algo possível de desenvolver através de treino: Treino à capacidade de riscar uma superfície de forma a simular as formas pretendidas, portanto, treino à parte física do processo, à mão e ao braço; Treino à forma de compreensão da realidade que nos rodeia e à criação de abstracções na nossa mente.
Logo o desenho é uma consequência da arte de conceptualizar, acredito.

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