SAMARRA HILLS

Conceptualize

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Contra

Ao longo da minha vida, em muitas ocasiões, fui adjectivado como sendo "do contra". O que é isso de ser do contra? É errado ser do contra? E é certo ser a favor?

Ser do contra é algo que aparece de forma pejorativa quando se descreve alguém. Isto porque a expressão parece surgir do descontentamento daqueles que se inscrevem dentro de uma linha maioritária de pensamento e acção face àquele que questiona ou contraria essa mesma linha. Ora isso não faz com que ser do contra constitua algo irracional e errado. Se a linha seguida pela maioria for irracional, ser do contra é bom. Por sua vez ser do contra face a algo que é racional parece-me errado.

E o que está por de trás desse conceito de contra é não mais que, perdoem-me, carneirada social. Se o mainstream da coisa aceitar algo e se alguém optar por outra via, mesmo que essa seja a correcta, esse alguém passará a ser rotulado como alguém do contra, alguém que está quase necessariamente errado. Ser do contra torna-se numa adjectivação perigosa para aqueles que pensam por si próprios e que, por colocarem em causa certas "certezas" sociais, se tornam incómodos.

Na mente daqueles que optam por definir outras pessoas como sendo do contra, essas outras pessoas são apenas contrariadoras de uma realidade. Mas eu acho que ser-se do contra é principalmente ser-se a favor de algo. E esse algo muitas vezes nem é tomado em conta ou analisado de forma coerente por aqueles que são "a favor". É simplesmente algo que vai contra a sua cosmovidência tradicional e aceite, contra os seus dogmas e preconceitos, contra a sua noção existencial, e isso causa-lhes uma reacção de repulsa e motiva, muitas vezes, ataques pessoais irracionais.

A mim o que importa realmente é se sou a favor do racional e do correcto, do bom, e se sou do contra face ao irracional e ao incorrecto, ao mal.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Foto-Exposição - Samarra

No passado dia 24, eu e dois Amigos partimos em busca da gruta da Samarra Norte. Levámos material fotográfico connosco para criar uma foto-exposição desse espaço espeleológico porém não o encontrámos onde o procurámos. Aproveitámos então para de novo explorar visualmente, com máquinas fotográficas mais competentes, o sítio marítimo que dá nome a este blog sob a propícia luz de um dia de Verão.
Eis 10 fotos da Samarra em Agosto:


Areal da praia, salpicado de seixos e sargaços.


Pormenor de vegetação na vertente Norte.


Vista para Oeste de uma reentrância na vertente Norte.



Balcão Sedimentar na Falésia a Norte da Samarra.


Colina da Samarra vista de Norte.


Veleiro no horizonte.


O Atlântico visto de entre a vegetação na encosta Norte.


Vista geral da praia da Samarra.


Tapete verde sobre as rochas na maré baixa.


A colina da Samarra ao pôr do Sol.



Fotos tiradas por Paulo Cruz e Carlos Duarte Simões.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A Era Espacial - Antes do Salto


A Era Espacial é o momento na História Humana no qual a Humanidade inicia a exploração física do espaço exterior ao Planeta Terra e à sua atmosfera. Este capítulo da História, creio, constitui uma nova e revolucionária forma de existência para a nossa espécie: a partir daqui o Ser Humano passa a existir também fora do seu planeta original e pode, por fim, movimentar-se para outros corpos astronómicos e explorá-los.

A nossa consciência da importância de termos ido ao Espaço é, hoje, algo confusa. Alguns de nós compreendem o quão determinante foi o primeiro voo espacial no decorrer da História e das possibilidades inimagináveis que este criou. Porém a maioria dos humanos não nutre grande admiração pela aventura espacial nem vê nela aquilo que ela constitui para a espécie, talvez como a grande maioria de nós não compreendeu a enorme importância das navegações dos Descobrimentos Europeus nos séculos XV e XVI. Estas não marcaram uma ruptura com o passado nem criaram uma nova forma de cosmovidência assumida pelos povos Europeus: nas suas mentes, a Idade Média, mais ou menos, prosseguia pelo Tempo. Mas a descoberta de novas terras e gentes, novos mundos, e principalmente o primeiro passo, o fazer-se ao Oceano das primeiras embarcações, teve um papel fulcral na criação da noção de Idade Moderna. Para os "modernos", a Idade Moderna surgia no espírito do Renascimento Italiano em oposição à Idade Média (Idade que fica entre o fim da Idade Clássica e o retomar da civilização da Idade Moderna). Essa qualidade socio-cultural da Modernidade cria a consciência de uma nova Era porém, hoje, é algo facilmente aceite que, em termos planetários, a revolução que constituíram os Descobrimentos tem uma importância humana semelhante à revolução das mentes e das culturas modernas. A noção actual da importância destas viagens marítimas, que causaram em parte a globalização, é algo que acontece gradualmente e após o Tempo no qual elas decorrem.
Creio que hoje em dia a concepção de Era Espacial ainda esteja em competição com os conceitos de Idade da Informação ou Era Atómica para definir algo que é difícil de definir sem se compreender o futuro. Mas acredito que num futuro que, optimisticamente, será feito no Espaço e com aquilo que vem do Espaço, o primeiro objecto humano e o primeiro humano fora da atmosfera terrestre serão tomados como marcos importantes na definição de uma nova Idade, na Era Espacial.

Mas o que leva a que nós, humanos, empreendamos a arriscada e dispendiosa exploração física do Espaço? O que nos leva a passar a existir também fora da nossa atmosfera?
Durante grande parte da sua existência os humanos viram no Universo não terrestre, nos céus nocturnos, uma outra dimensão, algo inatingível e imutável, com, talvez, um carácter mágico. A Astronomia confundia-se com a Astrologia. Havia um aspecto supersticioso e religioso nos céus que eram encarados como isso mesmo: céus, o tecto do Mundo, um plano no qual aconteciam fenómenos previsíveis e divinizáveis.
A vontade de atingir o Espaço e os mundos nele existentes surge, creio, quando o Homem começa a compreender os céus de forma tridimensional. Ou seja, apenas desejamos sair da nossa atmosfera quando percebemos que o Espaço é um sítio, assim como os planetas e as estrelas que observamos de noite, e que, portanto, podemos estar nesses locais e podemos explorá-los. O Céu tem X, Y e Z coordenadas logo o Ser Humano idealiza, um dia, existir nele.
Essa consciência de profundidade e volume no Espaço é criada pela observação empírica e racional do Cosmos e propulsiona-nos para além de um novo horizonte que criamos na nossa imaginação, cheios de curiosidade. A ideia de caminharmos na Lua, diga-se, ou observarmos a Terra no seu todo de um ponto de vista distante captou essa mesma imaginação, gradualmente colectiva, da nossa espécie. Obras como o Somnium, o sonho, de Johannes Kepler, exploravam a ida de um Homem à Lua de forma hipotética. Porém faltava a tecnologia que nos levasse além do céu azul e para outros mundos, que tornasse toda essa fantasia científica de estar no Espaço numa realidade.
Será só no século XX, inspirados por uma enorme vontade de atingir Marte e a Lua e baseando o desenho dos seus engenhos nas teorias desenvolvidas anteriormente (principalmente a Terceira Lei de Newton), que vários cientistas e engenheiros conseguirão atingir a capacidade tecnológica necessária para pôr um objecto em órbita e, logo de seguida, Yuri Gagarin, o primeiro Ser Humano no Espaço.

A aventura humana além atmosfera terrestre teve um impacto enorme na nossa cultura, técnica e ciência, impacto algo subvalorizado por nós hoje em dia. Ir para o Espaço foi um salto épico na nossa História, algo que possibilitou colocar o Hubble em órbita ou um Homem na Lua. A quantidade de possibilidades abertas no momento da exploração espacial é enorme e traz grande esperança para o nosso futuro como espécie, grande esperança de prosperidade e manutenção da nossa existência ao longo do Tempo. E tudo isso começou com uma racional observação do Cosmos que gerou uma concepção desmistificada dos céus e que nos mostrou que era possível a divina tarefa de ascender para junto dos astros.
Antes do Salto tão aguardado e desejado, tivemos de observar bem o obstáculo à nossa frente e também o que existe além dele de forma correcta e acertada. A racionalidade levou-nos ao Espaço.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Constância

O Mar é constante
e isso conforta-me
mesmo gélido e bravo
mesmo escuro e terrível
azul e branco
eu amo-o,
como te amo a ti
branca e azul
terrível e escura
brava mas tão gélida
que me confortas
e que me és constante.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Hypatia

Hypatia (350/370 d.C.-415 d.C.), foi a última bibliotecária da Biblioteca de Alexandria e uma brilhante matemática. Educada em Atenas e na Itália, inseriu a sua acção na linha Neoplatónica e ensinou matemática, astronomia e filosofia na sua cidade natal de Alexandria. Tornou-se influente nos circuitos político-sociais da capital do Egipto Romano e viu-se envolvida na comoção vivida entre as suas várias facções cristãs e as suas facções não cristãs. Talvez por se ter tornado próxima do Perfeito romano de Alexandria, Orestes, ou apenas por se ter tornado num símbolo do Conhecimento e da Ciência na cidade (atributos relacionados, indevidamente, ao paganismo na cosmovidência das comunidade cristãs desse contexto), Hypatia foi assassinada brutalmente a caminho de casa por uma multidão de cristãos partidários de Cyrillus, Patriarca de Alexandria, que a despiram e que a arrastaram pelas ruas para por fim lhe arrancarem a carne dos ossos com cacos de cerâmica e a queimarem viva. Hypatia seria esquecida e demonizada enquanto Cyrillus seria tornado santo.
Hypatia, embora ligada ao Neoplatonismo, linha de pensamento que procurava a negação da observação racional do Cosmos em detrimento da Lógica matemática na busca do Conhecimento,
existiu de forma revolucionária no seu contexto espácio-temporal. Aparece como uma mulher que procurou aquilo que lhe é direito, a igualdade humana, num momento na História em que as mulheres tinham uma liberdade social e política bastante constrangida. Foi educada como um rapaz e movimentou-se sem grandes impedimentos pelos espaços tradicionalmente masculinos da sua sociedade. Era uma mulher livre e racional, bastante digna e correcta, interessada pelos assuntos do Cosmos, possuidora de uma enorme curiosidade e terá sido um dos últimos fôlegos da Ciência Clássica.