SAMARRA HILLS

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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A Era Espacial - Antes do Salto


A Era Espacial é o momento na História Humana no qual a Humanidade inicia a exploração física do espaço exterior ao Planeta Terra e à sua atmosfera. Este capítulo da História, creio, constitui uma nova e revolucionária forma de existência para a nossa espécie: a partir daqui o Ser Humano passa a existir também fora do seu planeta original e pode, por fim, movimentar-se para outros corpos astronómicos e explorá-los.

A nossa consciência da importância de termos ido ao Espaço é, hoje, algo confusa. Alguns de nós compreendem o quão determinante foi o primeiro voo espacial no decorrer da História e das possibilidades inimagináveis que este criou. Porém a maioria dos humanos não nutre grande admiração pela aventura espacial nem vê nela aquilo que ela constitui para a espécie, talvez como a grande maioria de nós não compreendeu a enorme importância das navegações dos Descobrimentos Europeus nos séculos XV e XVI. Estas não marcaram uma ruptura com o passado nem criaram uma nova forma de cosmovidência assumida pelos povos Europeus: nas suas mentes, a Idade Média, mais ou menos, prosseguia pelo Tempo. Mas a descoberta de novas terras e gentes, novos mundos, e principalmente o primeiro passo, o fazer-se ao Oceano das primeiras embarcações, teve um papel fulcral na criação da noção de Idade Moderna. Para os "modernos", a Idade Moderna surgia no espírito do Renascimento Italiano em oposição à Idade Média (Idade que fica entre o fim da Idade Clássica e o retomar da civilização da Idade Moderna). Essa qualidade socio-cultural da Modernidade cria a consciência de uma nova Era porém, hoje, é algo facilmente aceite que, em termos planetários, a revolução que constituíram os Descobrimentos tem uma importância humana semelhante à revolução das mentes e das culturas modernas. A noção actual da importância destas viagens marítimas, que causaram em parte a globalização, é algo que acontece gradualmente e após o Tempo no qual elas decorrem.
Creio que hoje em dia a concepção de Era Espacial ainda esteja em competição com os conceitos de Idade da Informação ou Era Atómica para definir algo que é difícil de definir sem se compreender o futuro. Mas acredito que num futuro que, optimisticamente, será feito no Espaço e com aquilo que vem do Espaço, o primeiro objecto humano e o primeiro humano fora da atmosfera terrestre serão tomados como marcos importantes na definição de uma nova Idade, na Era Espacial.

Mas o que leva a que nós, humanos, empreendamos a arriscada e dispendiosa exploração física do Espaço? O que nos leva a passar a existir também fora da nossa atmosfera?
Durante grande parte da sua existência os humanos viram no Universo não terrestre, nos céus nocturnos, uma outra dimensão, algo inatingível e imutável, com, talvez, um carácter mágico. A Astronomia confundia-se com a Astrologia. Havia um aspecto supersticioso e religioso nos céus que eram encarados como isso mesmo: céus, o tecto do Mundo, um plano no qual aconteciam fenómenos previsíveis e divinizáveis.
A vontade de atingir o Espaço e os mundos nele existentes surge, creio, quando o Homem começa a compreender os céus de forma tridimensional. Ou seja, apenas desejamos sair da nossa atmosfera quando percebemos que o Espaço é um sítio, assim como os planetas e as estrelas que observamos de noite, e que, portanto, podemos estar nesses locais e podemos explorá-los. O Céu tem X, Y e Z coordenadas logo o Ser Humano idealiza, um dia, existir nele.
Essa consciência de profundidade e volume no Espaço é criada pela observação empírica e racional do Cosmos e propulsiona-nos para além de um novo horizonte que criamos na nossa imaginação, cheios de curiosidade. A ideia de caminharmos na Lua, diga-se, ou observarmos a Terra no seu todo de um ponto de vista distante captou essa mesma imaginação, gradualmente colectiva, da nossa espécie. Obras como o Somnium, o sonho, de Johannes Kepler, exploravam a ida de um Homem à Lua de forma hipotética. Porém faltava a tecnologia que nos levasse além do céu azul e para outros mundos, que tornasse toda essa fantasia científica de estar no Espaço numa realidade.
Será só no século XX, inspirados por uma enorme vontade de atingir Marte e a Lua e baseando o desenho dos seus engenhos nas teorias desenvolvidas anteriormente (principalmente a Terceira Lei de Newton), que vários cientistas e engenheiros conseguirão atingir a capacidade tecnológica necessária para pôr um objecto em órbita e, logo de seguida, Yuri Gagarin, o primeiro Ser Humano no Espaço.

A aventura humana além atmosfera terrestre teve um impacto enorme na nossa cultura, técnica e ciência, impacto algo subvalorizado por nós hoje em dia. Ir para o Espaço foi um salto épico na nossa História, algo que possibilitou colocar o Hubble em órbita ou um Homem na Lua. A quantidade de possibilidades abertas no momento da exploração espacial é enorme e traz grande esperança para o nosso futuro como espécie, grande esperança de prosperidade e manutenção da nossa existência ao longo do Tempo. E tudo isso começou com uma racional observação do Cosmos que gerou uma concepção desmistificada dos céus e que nos mostrou que era possível a divina tarefa de ascender para junto dos astros.
Antes do Salto tão aguardado e desejado, tivemos de observar bem o obstáculo à nossa frente e também o que existe além dele de forma correcta e acertada. A racionalidade levou-nos ao Espaço.

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