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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Ὠκεανὸς - Abismo


Existe na Terra um espaço que desafia a nossa concepção tradicional de existência no nosso planeta. Esse espaço é o Mar Profundo e dá-se entre a partir dos 1000 metros de profundidade em todos os Oceanos da Terra.
É difícil compreender o quão alienígena pode ser esta região do planeta e quão estranha, porém imensamente criativa, se pode tornar a evolução dos ecossistemas existentes a tais profundidades. Para se conceptualizar melhor este meio basta entender que a luz solar não consegue penetrar a água a partir dos 1000 metros, de forma significativa, as temperaturas rondam os 4º Celsius e a pressão ascende até aos 11000 psi. Parece até surpreendente que a vida se tenha desenvolvido nestas condições (e até em profundidades superiores, como veremos num dos próximos artigos).

Este ambiente terrestre é algo extremamente exótico para a minha forma de ver a Terra e os seus habitantes. Nesta profundidade média, entre os 1000 e os 6000 metros, dependendo da profundidade do oceano (podendo ser ainda mais profundo), não existem paredes laterais, não existe um fundo ou um tecto. Nesta escuridão total, sob imensas pressões, a forma natural de se existir num planeta parece cessar e surge uma realidade diferente. Parece que as criaturas que habitam este abismo se movem no Espaço, sem se moverem em relação algo estacionário que possam identificar. Os seres vivos movem-se para X, Y e Z coordenadas com apenas a gravidade a indicar-lhes a direcção de baixo e cima. É algo estranhíssimo. Os animais que se adaptaram à vida nesta profundidade passaram a viver num mundo que lhes propícia poucos estímulos exteriores. Não existe luz visível emitida pelo Sol nem superfícies geológicas para a reflectir. É um mundo cego, em parte.
Porém nesta abstinência de luz exterior surgiram curiosas formas de comunicação visual. De forma algo simbiótica, conglomerados de bactérias bioluminescentes vivem dentro do corpo de grande parte dos seres vivos que habitam estas águas, principalmente nas zonas mais superficiais desta zona escura. A bioluminescência prospera neste ambiente negro e assume-se como uma das principais formas de interacção entre indivíduos. Pensa-se até que, devido à extensão do oceano e deste locais escuros, e logo à quantidade de animais que neles vivem, a bioluminescência constituí a mais importante forma de comunicação visual. Recorrendo a interessantíssimas exibições de luz, os animais interagem com o meio circundante caçando, evadindo ou reproduzindo-se auxiliados pelas mesmas.
Este ecossistema de profundidade não recebe luz, logo não existem plantas no mesmo, logo não existe produção primária de energia biológica. Os seres deste mesmo ecossistema vivem baseados, em parte, por matéria orgânica que cai das zonas menos profundas do Oceano. Existem predadores a esta profundidade. Mas ainda assim os peixes que vivem aqui são pouco desenvolvidos muscularmente pois não têm de lidar com predadores que os caçam activamente com a visão. Muitos predadores pescam as suas presas, atraindo-as para as suas bocas de enormes dentes afiados com engodos de luz que captam a curiosidade de outros seres. Há ainda animais que usam a bioluminescência para iluminar um estreito espaço à sua frente de forma a conseguirem capturar outros animais. Predadores e Presas piscam pela vasta extensão destes abismos e é nestes momentos em que emitem luz que se dão as relações biológicas, em termos gerais, que sustentam este exótico e extraordinário ecossistema.

A exploração deste mundo subaquático urge. Em cada mergulho de profundidade em submergíveis se encontram coisas novas e estimulantes e uma enorme quantidade de informação sobre a Terra e sobre a Vida flutua também às escuras naquelas profundas águas. Esta profundidade média dos Oceanos embora não contenha uma significativa quantidade de biologia por quilometro quadrado, em comparação com ambientes menos profundos ou terrestres, contêm uma enorme quantidade de informação sobre as soluções que a Vida formula para se adaptar a X espaço. É um local tão fascinante quanto perigoso para a exploração mas deve ser explorado de forma sistemática e curiosa nos próximos anos, na busca de trazer mais luz a este mundo escuro e misterioso.

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