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terça-feira, 19 de julho de 2011

Ὠκεανὸς - Europa


Até agora, para o nosso conhecimento, a Terra permanece como o único planeta que sustêm Vida no Sistema Solar e no Universo. Com os seus oceanos e a sua atmosfera rica em oxigénio, a Terra é um local extremamente propício à evolução de sistemas biológicos complexos e diversificados.
A Vida extraterrestre dentro do Sistema Solar tem sido sistematicamente procurada, principalmente em Marte, local onde outrora existiram extensos volumes de água e condições atmosféricas favoráveis à formação de processos biológicos. Porém surgem, nesta demanda pela Vida extraterrestre próxima de nós, Titã, Encélado, Ganímedes, Europa e Calisto, todas luas geladas de Júpiter ou Saturno. Este artigo incidirá de forma sintética na lua joviana Europa, uma esfera de gelo e rocha com 3100 km de diâmetro que poderá esconder um oceano interno e enormes possibilidades de Vida no mesmo.

Vista à primeira vista, Europa parece hostil à Vida como a conhecemos. A superfície é apenas gelo e partículas de poeira. Enormes fissuras percorrem toda a lua, talvez testemunhos de dinâmicas geológicas ou oceânicas sob a crosta de gelo. A Vida não parece ter hipóteses de se formar e prosperar à superfície: Sem atmosfera para a proteger, Europa é pesadamente bombardeada por radiação proveniente de Júpiter e do seu colossal campo magnético. Além disso o vácuo do espaço estende-se até à sua superfície. O interesse humano em Europa existe hipoteticamente a uma profundidade calculada de 10 a 30 km. A esta distância da superfície, o gelo deverá terminar e dar lugar a uma massa de H2O com, talvez, uma profundidade de 100 km. Ora, onde existe água talvez, apenas talvez, exista Vida.
Até à relativamente poucos tempo, o conceito de Vida estava profundamente interligado com o conceito de energia solar e tinha a fotossíntese como início incontornável para os processos criadores de ecossistemas complexos na Terra. E este modelo era então aplicado à Astrobiologia de forma a procurar formas de Vida extraterrestres em termos gerais. Mas em 1977, com a descoberta de ecossistemas de profundidade, independentes face ao Sol e alimentados por sulfetos, a forma de ver a Vida alterou-se e tornou-se possível inscrevê-la talvez, apenas talvez, dentro dos oceanos profundos e escuros de Europa.
A actividade geológica da lua joviana possibilitaria processos semelhantes às Fontes Hidrotermais terrestres. E essas fontes possibilitariam a Vida baseada, na ausência de Sol, em processos quimiossintéticos. Largas comunidades de bactérias poderiam existir junto de fugas geológicas no fundo deste super oceano e a centelha da Vida poderia, se estimulada correctamente, surgir num desses contextos e evoluir de forma a criar formas de Vida complexas. Pergunto-me como seriam estes seres... Seriam, se evoluídos o suficiente (dados alguns milhões de anos), parecidos a seres gelatinosos e extensos, como medusas, possivelmente bioluminescentes ou completamente cegos e capazes de sentir a mínima alteração de pressão, o mínimo movimento na água ou a mínima anomalia electromagnética. A cosmovidência destes seres seria muito diferente da nossa, terrestre. Num mundo sem luz e numa extensão de água enorme e sem, em grande parte, fundo, paredes ou tecto, a Vida teria de se adaptar a condições bastante diferentes das nossas, porém semelhantes em parte às existentes a grandes profundidades na Terra. Poderá ainda haver Vida próxima da superfície de gelo, vivendo junto das grandes fendas, e que poderá ter alguma relação com o Sol ou a radiação de Júpiter. Europa pode estar repleta de Vida, talvez até complexa. Ou não...

O quão importante é Europa para nós Humanos? Europa constitui a melhor possibilidade de encontrar Vida fora da Terra e dentro do nosso sistema estelar. Encontrar Vida exógena à Terra seria algo revolucionário (não que não seja esperado como algo inevitável pelos mais racionais). Além de provar que não estamos sozinhos no vasto Universo, isso provaria que a Vida pode ocorrer pelo menos duas vezes dentro do mesmo sistema. Logo esta deverá ser largamente comum por todo o Cosmos conhecido. E esta alteração magnífica e radical na nossa cosmovidência está à distância de enviar para Júpiter uma sonda que alune em Europa e que perfure o gelo para ver o que espreita (teoricamente literalmente) por baixo. Alguns programas de exploração às luas geladas de Júpiter, como é o caso da JIMO (Jupiter Icy Moons Orbiter), foram cancelados ou apenas gizados por alto. Europa urge por uma exploração eficaz e que traga respostas rápidas sobre a Vida fora da Terra.
Questiono-me sobre a reacção de um ser europano, que nunca viu algo além do gelo, que está enclausurado desde o seu início naquele oceano escuro sem alguma vez ter visto Júpiter a pairar por cima, ou o Sol, ou as estrelas, ao encontrar-se com uma sonda exploratória vinda da Terra, em paz.

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