SAMARRA HILLS

Conceptualize

domingo, 17 de julho de 2011

Ὠκεανὸς - A outra Vida


Diz-se que a Humanidade conhece melhor a superfície da Lua que o fundo dos oceanos da Terra. Parece verdade. Porém acho mais apropriado comparar o fundo oceânico à superfície de Vénus, diga-se, numa dinâmica de dificuldade de apreensão de conhecimento. Assim como a superfície venusiana, o fundo do mar esconde-se de baixo de uma cobertura de matéria (neste caso água) que existe a enormes pressões e a temperaturas inapropriadas para a vida humana. A exploração do Benthos, do fundo dos oceanos terrestres, é uma tarefa perigosa.

A Vida na Terra desenvolve-se a partir de processos de transformação de matéria ou energia em massa biológica, isso parece definir a Vida. As plantas prosperam transformando a energia solar num catalisador para os processos químicos que sintetizam matéria em alimento para si. Outros tipos de seres vivos consomem as plantas de forma a conseguir alimento e outros seres vivos consomem os primeiros de forma a conseguir por sua vez a sua alimentação. O Sol surge então como o principal e primeiro factor de sustentabilidade biológica para os diferentes ecossistemas. Porém, na ausência de luz solar do fundo oceânico, surgiram-nos ecossistemas complexos potenciados não por processos de fotossíntese, mas por quimiossíntese.
Junto a Fontes Hidrotermais subaquáticas, a enormes profundidades, foram descobertas colónias de bactérias que se alimentavam a partir de compostos de enxofre e que serviam (como as plantas na superfície terrestre) de base para todo um ecossistema. Vermes tubulares surgem junto a estas comunidades bacterianas e alimentam-se das mesmas, assim como uma enorme variedade de espécies animais o fazem, constituindo assim uma teia de dependências biológicas. E o quão importante é esta descoberta? É imensamente importante para a compreensão de como a Vida se adapta ao Meio de forma a conseguir a manutenção da sua existência. Pela primeira vez descobrimos nichos biológicos complexos e independentes da energia solar no nosso planeta.
As Fontes Hidrotermais são pontos de florescimento biológico, oásis de vida, no vasto e hostil fundo dos oceanos. Em total escuridão e sob pressões violentíssimas, a Vida parece ter conseguido ancorar-se e prosperar e isso é surpreendente. Os seres vivos ocupam determinada fonte durante o seu período de actividade e vão explorando-a de forma a conseguir formar uma cadeia alimentar baseada na emissão de sulfetos.
Outro espectacular fenómeno de Vida, revelador do potencial biológico do fundo marinho, são os biomas constituídos pelas Fontes Frias,como é o caso das Salmouras, e que revelam outro ecossistema exótico baseado em quimiossíntese. Estes locais são formados por fugas de fluídos ricos em hidrocarbonetos que ocorrem no fundo marítimo, fugas essas que algumas vezes culminam na formação de lagos subaquáticos. Esses lagos são possíveis graças a enormes concentrações matéricas num lençol de água que ocupa uma determinada zona do fundo oceânico e que se distingue da restante água marítima por ser mais densa. Forma-se assim uma segunda superfície dentro do Oceano. Nas margens desses lagos conglomeram-se enormes quantidades de massa biológica, principalmente mexilhão. Todo um ecossistema surge ali, alimentado, também, por bactérias quimiossintéticas.

A exploração destes mundos que existem a profundidades colossais parece ser imensamente importante para a compreensão do planeta Terra e da Vida. Como módulos espaciais que atingem a superfície de outros planetas, os submersíveis atingem o fundo do Oceano para aumentar a cosmovidência humana, trazendo a cada mergulho dados novos e olhares diferentes sobre a existência na Terra.

Sem comentários:

Enviar um comentário